A poesia e a procura pelo novo!

 
Ele parou em frente ao canteiro, despedaçou uma flor e se pôs a observar o esvair da vida nas pétalas, a rápida mudança de cor, a extinção do perfume, tudo o impressionava. Todavia, sua agressão não lhe trouxe o resultado desejado. Pobre poeta, estava tão seco quanto as pétalas, já não adornava suas dores em versos.  Talvez tenha sofrido alguma traição ou perdera um grande amor. Quem sabe? Fato é que sem seus versos o mundo tornou-se mais pobre, reduziram-se os cochichos das colegiais no pátio das escolas, os suspiros das almas apaixonadas e a reconciliação de casais.
Logo, sem a magia de respirar paixão através dos versos não custou para que pesasse nos ombros do poeta o fardo da idade. E assim arrastando seu corpo cansado o velho poeta perambulava pelas ruas da cidade, sentava-se nos bares de ouvidos atentos a fim de reencontrar sua inspiração perdida. No entanto, quase sempre frustrava-se ao deparar-se apenas com exaustivas discussões sobre política e futebol.  Talvez não houvesse mais espaço para poesia no mundo indagava-se o poeta, afinal, a cada dia o mundo assemelhava-se mais com uma porção de terra cheia de gente aborrecida.
 Fora numa destas calmas manhas de domingo que nosso poeta levantou-se sentindo-se incompleto, sequer cumpriu seu rito de abrir as janelas e saborear seu forte café. Pelo contrário, indignou-se ao se perceber assistindo a um destes programas de culinária da TV. O que viria depois disto, cuidar de jarros de plantas e animais de estimação? Não! Apesar de possuir poucos certezas ainda restava-lhe uma, não deseja definhar como os velhos convencionais. Era preciso sair em busca do novo, certamente, saborear o êxtase de novas aventuras lhe renderiam bons versos. Sendo assim apressou-se em trocar o pijama e ir a uma agência de viagens. Porém, apenas em frente a agência o poeta deu-se conta de não contar com muitos recursos, logo, restou-lhe comprar um pacote ecológico qualquer.
É fato que o poeta apenas utilizava uma bengala por ela o conferir certo ar de classe, no entanto, ao desafiar as intermináveis subidas da trilha ecológica ele desejou ter algo em que se apoiar. Entretanto, os que o acompanhavam ficaram boquiabertos com a enorme superação daquele senhor franzino. Até mesmo enfrentar o calor do sol em tais circunstâncias já representava um acréscimo ao desafio da viagem, desafio este que o poeta ia contornando à medida que distraía-se contemplando as paisagens magníficas do trajeto. Ali, naquele paraíso perdido residia em seu pensamento apenas uma angústia. Como traduzir em versos tantas sensações, a exuberância das árvores, o frescos de uma brisa e o canto orquestral daqueles pássaros. Logo, admirado em meio a tantas maravilhas em perceber o poeta chegou ao fim da caminhada, todavia, por sorte sua aventura maior ainda estava por vir, já que ao fim do passeio todos os integrantes do grupo eram convidados a realizar um salto de asa delta. Embora, se considerasse apto para tal empreitada o poeta não contava com as queixas de seu velho coração, que, prontamente, recusou-se a encarar tal emoção. Pois é, assim já era demais para ele, o poeta enfartou. Porém, teve a sorte de receber cuidados médicos no local e o azar de encontrar-se debilitado demais para escrever um poema.
Já, em casa o poeta relutava em cumprir a prescrição médica de manter o repouso, muito embora tivesse a certeza de que não sobreviveria caso buscasse uma nova odisseia. Todavia, recusava-se a morrer no anonimato, realmente carecia de reencontrar a sua inspiração para enfim votar a preencher as prateleiras das livrarias já tão esquecidas de seu nome. Nome este que até o seu próprio filho se esquecera, afinal, ele raramente o ligava. Talvez ainda o culpasse pela morte da mãe.
Desta vez fora numa tarde que o fantasma da inquietude veio ter com o poeta, não bastasse já estar sendo torturado pela incapacidade de escrever, agora, tinha de lidar com uma nova voz. Maldita voz que repetia sempre o mesmo “Somente um novo amor o renderá novos poemas”. Todavia, já de idade muito avançada o poeta sentia-se cansado para lidar, novamente, com os jogos da sedução. Sendo assim seria difícil acatar tal ordem absurda de seu cansado coração. Entretanto, não demorou para que o poeta tivesse uma brilhante ideia, iria em busca de uma prostituta. Só assim avançaria a entediante parte da paquera, olhares, flertes... que saco! E além do mais haveria algo mais poético do que se apaixonar por uma prostituta? Talvez nem fizessem sexo, contudo, ainda assim seria intensamente sedutor ouvi-la contar suas histórias. Sim, o poeta saiu à noite, seu destino foi um sofisticado prostibulo da cidade, sua maior pretensão apaixonar-se. Ao chegar no local o poeta escolheu a moça que julgou ser a mais formosa e optou por leva-la a um quarto de hotel. Porém, mal entrou no quarto fora surpreendido com uma bancada na cabeça, horas depois acordou portando apenas uma carteira vazia e uma enorme sensação de vergonha.
Dias depois, sentindo-se desolado numa dessas tardes de sofá o poeta começava a aceitar o seu trágico destino, morreria mudo e esquecido. Talvez comprasse um cachorro, embora já não possuísse o vigor para cuidar de um animal. De qualquer forma com a morte de sua poesia em breve a sua morte também seria decretada. Todavia, exatamente no instante em que esta reflexou lhe veio à cabeça que o telefone tocou. Era seu filho a lhe pedir desculpar e comunicar o nascimento de sua neta. Logo, rapidamente, um sorriso surgiu no rosto de nosso poeta, afinal, isto sim era algo novo, o milagre da vida. Sim, o poeta estava, novamente, apaixonado, logo, restava apenas uma coisa a se fazer, escrever .
 

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