Os Mequetrefes


O bairro inteiro já conhecia a fama daquela trupe, os Mequetrefes, o quarteto infantil mais amado e odiado da esplanada. E eram eles respectivamente em ordem de comando Chiclé de 11 anos, Tião com 12 anos, Quatro olhos de 11 anos e Risadinha de 10 anos! Chiclé recebera seu apelido pela lógica associação de estar sempre a mascar chiclete, era ele o mais peralta, o cabeça do grupo. Tião era o simples diminutivo de Sebastião, os braços e músculos da trupe. Já Quatro olhos era praticamente cego sem usar seus óculos e Risadinha era o garoto mais tímido dentre eles.
 Certo dia quando retornavam à casa da árvore, sede do bando, após um extenso dia de trabalho, onde os quatro promoveram ingênuos jogos de azar pela cidade a fim de arrecadar grana para uma viagem ao Tivolis parque, o mais famoso parque temático do estado, os Mequetrefes foram parados pelo senhor Rodriguez, um mendigo que possuía uma cabana de madeira as margens do rio que cruzava a cidade.
_ Mequetrefes, o que vocês teriam de comer aí? Troco por um valioso mapa do tesouro.
Chiclé logo se adiantou e tomou a voz do grupo.
_ Se é um mapa do tesouro por que o senhor mesmo não corre atrás?
_ Já estou velho para essas aventuras, eu o achei próximo ao Rio a poucos metros da cabana.
Quatro olhos, imediatamente, retrucou o amigo Chiclé.
_ Vamos, dê aquela sacola de pães para ele e vamos dar uma olhada nesse mapa. Com esse tesouro podemos pagar nossa viagem ao parque.
E assim, rapidamente,  o grupo inteiro consentiu que o melhor seria aceitar a proposta do velho Rodriguez. Pegaram o velho pergaminho e sem dar muita importância enfiaram ele no bolso e seguiram seu rumo. Todavia, Risadinha o mais curioso do bando retirou o pergaminho do bolso de Chiclé e logo comentou:
_ Ou ou, tem um problema esse negócio tá em grego!
Quatro olhos com um ar de deboche repreendeu Risadinha.
_ Me dá isso aqui! Mas, isso não é grego é francês. São instruções de como encontrar um baú misterioso nas profundezas da floresta escura.
Com um certo receio todos se prometeram que iriam caçar o tesouro na manhã do dia seguinte, afinal, sabiam eles das histórias de terror que envolviam a floresta negra. Bruxas, quedas d´ água imensas, lobos sombrios, estas eram algumas das lendas que envolviam a floresta.
No dia seguinte, com o coração na boca partiram todos em uma viagem de ônibus até o início da floresta negra. Mas, o dia começou estranho, afinal, a cidade parecia agitada, o trânsito engarrafado e várias viaturas de polícia a circular pelas ruas. Risadinha logo comentou.
_ A rua tá cheia de policiais, passou no notíciário que assaltaram o museu da cidade. Com esse trânsito vai demorar para chegar.
Mas, ao longo do caminho a vista que mais surpreendeu nossa inquieta trupe foi a da cabana do senhor Rodriguez espedaçada as margens do Rio. Quem faria uma covardia dessas? E tudo isso sem nenhum sinal do velhinho! Amarguras a parte ainda assim era preciso seguir viagem. E assim com a cabeça nas nuvens e as pernas trêmulas os Mequetrefes alcançam o seu destino. Logo a sua frente a temível floresta negra!
Assim que desceram do ônibus os Mequetrefes verificaram as mochilas abarrotadas de guloseimas, traziam também uma barraca de acampamento carregada por Tião, é lógico! A princípio seguiram a passos tímidos, olhares a espreitar a gélida visão da floresta negra. De acordo com quatro olhos seriam precisos apenas algumas horas de caminhada para alcançarem a guarita da reserva ambiental! Com o propósito de passar o tempo Chiclé entoa canções de escoteiros para aquecer seus corações!
À noite começava a cair quando nosso grupo foi surpreendido pelo som de uivos de lobos. Agora sim o terror se confirmava! Já era possível ver a matilha à espreita atrás de arbustos próximos quando os meninos tiveram o lógico impulso de correr. Pés trôpegos e respiração a mil, tudo era inconveniente, afinal, os lobos pareciam diminuir a vantagem a cada centímetro quando Tião teve a brilhante ideia de aconselhar o grupo a subir em uma árvore.
_ Todos para a árvore!
E assim foi com imensa dificuldade que o grupo escalou a árvore mais próxima. Foram preciso horas para que a matilha de lobos desistisse de ficar ao encalço dos Mequetrefes. Mesmo com tudo isso não foi o suficiente para abalar o ânimo dos meninos, mas justamente quando se preparavam para descer ouviram vozes humanas. Antes que pudessem se alegarar Risadinha alertou.
_ Esperem, esses são os dois bandidos que vi na Tv, aqueles que assaltaram o museu! Mas, por que estão seguindo nossos rastros?
Por sorte a neve que caia havia apagado as últimas pegadas dos Mequetrefes e os bandidos seguiram desorientados floresta a dentro. Sendo assim os Mequetrefes puderam descer e continuar sua viagem. Muito embora estivessem tensos com essa mais nova ameaça. Mas, ainda assim voltar atrás e ser comido pelos lobos não era uma opção, seguir era preciso! E assim seguindo as instruções de Quatro olhos o grupo percorre mais alguns quilômetros antes de montar acampamento. Para se certificar da segurança de todos Chiclé que já foi membro dos escoteiros cerca o acampamento de armadilhas! Após isso com algum custo todos dormem!
Pela manhã foi enorme o espanto de todos ao perceber que um dos bandidos havia caído em uma das armadilhas de Chiclé. Pendurado de cabeça para baixo preso por uma corda o malfeitor encenava.
_ Hei, garotos... Caí na armadilha para os lobos, me ajudem!
E assim, às pressas, a nossa trupe levanta acampamento com receio de que o outro bandido voltasse à procura do colega! Deixando o malfeitor para trás sem interrogá-lo os Mequetrefes continuam seu percurso a se perguntar o porquê daquela perseguição! E foi justamente após duas horas que Quatro olhos desvenda essa charada.
_ Gente, consegui traduzir a frase da cápsula de guardar o pergaminho. Aqui diz que é de propriedade do museu, por isso estão a nossa procura.
Conscientes do real perigo que os espreitava os Mequetrefes seguem mais atentos. Mas, com o cair da noite os ânimos do grupo se afloram! Foi quando Tião subitamente questiona Quatro olhos.
_ O que você realmente entende dessa porra de francês? Estamos rodando a horas!
_ Eu fiz um ano de curso seu idiota!
_ Você vai ver quem é idiota.
E antes mesmo que os outros meninos pudessem intervir Tião acerta Quatro olhos com um direto de esquerda em cheio na cara! E para o azar do grupo os óculos do nosso tradutor se espedaçam. Risadinha assustado diz.
_ E agora como vamos encontrar o caminho?
Os mequetrefes seguiam sem direção certa, suas lanternas já começavam a falhar quando a alguns metros de distância avistam uma fogueira. O temor foi imediato, mas os meninos logo identificaram que se tratava de uma mulher sentada aos pés da fogueira! E assim eles, rapidamente, se aproximaram. Com o intuito de remediar seu erro Tião toma a frente a fim de pedir informação, mas ao ver a face desfigurada da mulher o mais bravo dos Mequetrefes desmaia. A seguir todos os outros se escondem atrás das árvores, menos Quatro olhos, afinal, ele não podia ver bem sem seus óculos.
_ Hei, a senhora pode nos ajudar?
_ Sente-se, do que precisa?
Logo todos os outros gritaram.
_ Corra Quatro olhos é uma bruxa!
_ Mas, ela é tão gentil!
A seguir a bruxa retrucou.
_ Não irei lhes fazer mal se aproximem! Do que precisam?
Chiclé responde.
_ Precisamos traduzir um pergaminho em francês. Mas, nosso colega Quatro olhos está sem seus óculos.
_ Não entendo nada de francês, mas se me trouxerem um pouco da água que corre pelo desfiladeiro poderei fazer uma poção para clarear a visão do colega de vocês por alguns dias.
 Fartos da viagem os Mequetrefes aceitam a oferta da bruxa, mas decidem partir apenas ao amanhecer deixando apenas Quatro olhos à espera no acampamento da bruxa.
Tão logo o dia amanheceu Chiclé, Tião e Risadinha partem subindo a correnteza do rio a fim de encontrar a nascente do rio. Seguiam em ritmo de discussão, todos questionando a razão desta arriscada aventura, suas vozes ecoavam pela floresta e contrastavam com o canto dos pássaros quando foram novamente surpreendidos por um bandido que a saltar de trás das árvores agarrou Risadinha e disse.
_ Eu quero o mapa seus pestinhas! O mapa ou quebro o pescoço do seu colega.
Sem pensar duas vezes Tião retira sua atiradeira do bolso e acerta bem na testa do malfeitor que desnorteado solta Risadinha. Com a vantagem os meninos começaram a correr, mas a geografia do local não os ajudava. Alguns metros a frente via-se um enorme desfiladeiro, não havia para onde seguir, logo o bandido os renderia. Foi quando Chiclé teve a ideia inusitada de descascar algumas bananas que trazia na mochila e largar as cascas pelo caminho! Enfurecido devido a pedrada que recebeu o Bandido já contava vantagem ao se aproximar dos meninos quando escurregou em uma casca de banana e despencou desfiladeiro abaixo.
E assim vencido este obstáculo restou aos Mequetrefes a difícil tarefa de descer as paredes do desfiladeiro a fim de pegar a água que corria pelo desfiladeiro. Horas depois, exaustos, retornaram ao acampamento da bruxa e entregaram a ela a água que foi coletada. Esta, rapidamente, pegou o cantil dos meninos e começou a ferver a água junto a algumas ervas a fim de preparar a poção!
Já em posse de sua visão Quatro olhos volta a guiar o grupo em direção ao tesouro! Bastaram algumas horas de caminhada e os meninos se depararam com uma enorme gruta onde sem hesitar entraram, afinal, que perigos ainda poderiam surpreendê-los? Logo a sua frente estava um baú de cedro, em seu interior uma infinidade de moedas de ouro, jóias, taças. Um alívio colossal tomou conta das crianças que se apressaram a colocar em suas mochilas todo o ouro que pudessem levar!
O caminho de volta a casa não foi tortuoso como o princípio desta jornada, mas restava aos Mequetrefes um porém. O que fazer com o tesouro? Afinal, que aventura maior o parque poderia lhes proporcionar do que a que já tiveram? E assim, já no ônibus de volta para casa, antes mesmo que a visão faltasse de novo ao Quatro olhos ele avistou o Velho Rodriguez em uma cena de completo abandono a se lamentar pelo casebre destruído. Sem hesitar comunicou aos outros e desceu, todos o seguiram.
_ Senhor Rodriguez, o que houve?
_ Meninos, que bom que estão bem! Foram alguns bandidos que vieram atrás do mapa eu não queria falar, mas...
Imediatamente, Quatro olhos ofereceu ao velho Rodriguez sua parte do tesouro para que ele pudesse enfim ter uma casa. E para surpresa de Quatro olhos seu gesto foi repetido por todos os seus colegas. Afinal, as aventuras na mata, os lobos, bandidos, a bruxa, que prêmio maior poderia ter uma criança? Naquele dia voltaram mais leves em rumo as suas casa, afinal, suas mães deviam estar preocupadas.

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