Molejo


Que boas memórias guardava aquele quintal, hoje tão vazio adornado apenas pelas doces memórias de Teresa, mulata viçosa, fogosa, abre alas de qualquer terreiro. Hoje conhecida apenas como Dona Teresa, moradora antiga do bairro, conhecida pelos seus doces e quitutes. Paisagem corriqueira do bairro era vê-la cozinhando de janelas abertas sempre com seu olhar maroto a contemplar o quintal. Lugar consagrado pelas suas festas samba e feijão tropeiro, levada carioca, de quem saber viver, às vezes nem pede o troco!
Ah e os amores? Teresa contava nos dedos, sem o auxílio dos dedos dos pés como costumava dizer! Senhora simpática, confidente de muitas jovens da cidade. Porém, com ela o santo casamenteiro falhou, apesar de tanta prece, tanta vela! Zé da Portela fora o seu maior amor, mulato aprumado, contador de histórias, porém mais conhecido como ritmista da Portela. Como se apaixonaram? Espera aí, este conto nem é novela, mas já que insiste! Sabe um desses dias inesperados? Onde as pessoas acordam escovam os dentes, se arrumar para o trabalho. Pois é, tudo começou com uma prosa na fila do supermercado. Zé com Aguardente na sacola, camisa da hora, chuchu beleza... E aí? Pensa um pouco! O assunto logo virou samba, canjica, infância. Apaixonaram-se! “Se ajuntaram”, pois dizia o Zé que unido de boa fé casado é, que o santo também abençoa!
E coloca água no feijão, chama mais um, de mutirão em mutirão fez-se o puxadinho. E vieram os bons e os maus dias, as mesas fartas, as crises, apertos. O desemprego, o anúncio no rádio da mudança do plano econômico. O desemprego do Zé, o desespero, as bocas para alimentar, a escolha errada... Alvejado no morro, mais um Zé sem legado nem pátria.
Mas, dizem que de alguma forma a vida continua... Meio sem jeito, sem graça. Teresa tornou-se chefe de casa, não era vista no salão, ainda assim era alvo de fofocas!
_ O quê? Teresa e os filhos estão é passando fome, meu amor!
_ Sei não, dizem que mal enviuvou e já está cheia de homens na rua.
E passaram-se os feriados, as comemorações de aniversário dos filhos, as festa de fim de ano. A festa de seu segundo noivado! É, mas sobre isso Teresa não me autorizou escrever, disse que certas coisas na vida devem ser mantidas em seus respectivos lugares! Só isso, tornou-se Teresa, a confeiteira... Aguarda os netos, ainda se “entusiasma” com o natal. Chora sempre ao ouvir Pixinguinha, lembra-se do seu Zé seu amor! Cria um gato chamado Jesus, mas há semanas comentam na vendas que já não vai à igreja!


_ Que calor, que vida! É o cristo redentor na TV e tanto santo sem molejo!

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