Maldita sorte!
Vigiava a distância a vitrine de doces, balas, confetes, amarelos,
prateados, ou roxos? Era a fome a incomodá-lo numa diversidade erótica de
cores!
Logo, apalpou suas mazelas, bituca de cigarro, cartão de passagens e
moedas miúdas no bolso. Saldo insuficiente! Pois é, seria preciso coragem para
enrolar o guardinha e garantir o penduro na manha.
_ Guardinha, anota aí mais um cigarro e...
_ Como é? Gordo, mais um cigarro? Assim não dá, assim não dá!
_ Qual foi, guarda? Dia quinze te pago, sabe que...
_ Toma, vá, vá, vá...
E assim cumprida a missão restava ao gordo debandar para casa e agitar o
seu banho, pois urgiam as horas e sua preta detestava esperar.
Todavia, naquela noite até mesmo os astros pareciam cooperar! Logo, logo,
iria à Chatuba se desmanchar no colo da preta, alvoroçar, seus desejos, escapar
do estresse a enchendo de galanteios.
Orelhas lavadas, fones no ouvido e de bem com as horas partira o gordo.
Moleque arteiro, a cantar o seu reggae e saborear seu cigarro!
_ Dia de sorte, adeus bituca... Peraí! Cadê a bala? Mas, olha só como o
diabo age certinho...
A bala? O gordo esquecera em casa! A razão de seu desespero? A preta
detestava gosto de cigarro.
Logo, inconformado o gordo retorna à casa. Mal pisara na sala e
conseguira ampliar seu estresse ouvindo um esporo clássico de sua mãe!
_ Vai aonde? Que cheiro de cigarro! Já voltou pra bulir nas panelas, né?
_ Me deixa, mãe, me deixa... Só esqueci minha bala...
_ Bala, sei qual é a bala!
Um estrondo no portão da saída fora o último protesto que se ouviu do
gordo, que desta vez saiu de casa a passos largos. Esbaforido, no ponto, coçava
a cabeça, olhava as horas, Sequer cumprimentou seus companheiros aos vê-los
passar!
_ Maldito cigarro! Quer saber, maldita bala, seria melhor ter comprado
coxinha!
Todavia, seus murmúrios logo tiveram fim, o ônibus passou! E assim o
gordo pagou a passagem e partiu. Porém, já não cantarolava mais o reggae e sim
inventava desculpas para ludibriar sua preta (mulher enfezada) devido ao
atraso.
Quadras e quadras e... a frente o gordo puxou o sinal. Logo ao descer ele
ajeitou o cabelo num retrovisor de carro, verificou a barriga, encolheu,
soltou. Mas, foi ao verificar os bolsos que teve sua derradeira surpresa!
_ Cadê a bala? De novo não! Tá vendo como o diabo age certinho!
Pois é, maldito cigarro, maldita bala? No entanto, seria a culpa do
diabo, ou, da bala? A bala que fugiu do gordo!
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