As aventuras de Rasputim, o ladrão!
_ Corre!
_ Essa descida é muito íngreme! Você não devia ter alertado os guardas,
maluca.
_ Claro, se você não tivesse tentado me roubar!
_ Qual é o seu nome?
_ Rasputim!
_ Relaxa, Rasputim, eu tenho um plano!
_ Qual plano?
_ Corremos até a borda do precipício e quando eu disse você pula você
pula...
_ Claro, ótimo...
_ Pula!
E assim, sob o sol escaldante da Namíbia, Rasputim executa um salto cego
e escapa do alcance da mira das flechas dos guardiões da torre. Logo, com seu
furto mal sucedido e sua sorte confiada às mãos de uma estranha Raspudim atinge
as mansas águas do mar da Namíbia. E bastou o esforço de algumas braçadas para
que, rapidamente, ambos fossem resgatados pela bóia de um imenso navio, uma
majestosa embarcação de aproximadamente 145 pés de comprimento.
_ De onde veio isto, maluca?
_Meu nome é Léa!
Já, longe do alcance da flechas Lea e Rasputim se acomodam, no porão do
navio, mas apesar de dividirem uma garrafa de vinho seguem trocando ofensas.
_ Como uma rata como você pode ter um navio deste a espera?
_ O que posso fazer? Alguém valoriza o meu trabalho, meu bem!
_Pois é, tem idiota pra tudo nesse mundo!
_ Foi você que me fez perder o artefato, devia ser feito escravo e ser
alimentado com ratos!
Apesar das desavenças, em pouco tempo, Léa e Rasputim começaram a
partilhar suas histórias e, logo, começaram a nutrir um respeito mútuo pelos
seus atos de bravura. Respeito este que, sorrateiramente, evoluirá para amizade
e ao decorrer da viagem se consolidara numa paixão arrebatadora. Deste modo, ao
invés de desperdiçar o tempo com brigas o casal passou a considerar a ideia de
abandonar a embarcação, no próximo porto, para seguir viagem e oferecer seus
serviços ao rei do Sudão!
Já, diante do Rei Rasputim negocia os seus serviços!
_ Desculpe-me por tomar o seu tempo, Vossa Majestade.
_ Prossiga, rapaz, qual é a razão de ter marcado esta audiência?
_ Perdoe-me, Vossa Majestade, sei que és um homem atarefado, de muitos
interesses e por isso mesmo venho oferecer-lhe os meus serviços...
_ Seja breve, rapaz, quais serviços?
_ Certo, sou o renomado ladrão Rasputim e esta é minha companheira Léa,
saiba que não há neste e em nenhum outro reino porta, baú ou armadilha que não
possamos burlar!
_ Rasputim, geralmente, cortamos as mãos de homens da sua espécie, mas
tem sorte que há muito cobiço os tesouros das pirâmides de Gizé no Egito!
_ Claro, e tem sorte que meu preço é modesto! Vinte cinco por cento do
valor, e uma caravana formada por dez homens e quinze dos seus melhores cavalos
de cruzar o deserto.
_ Mas, este é um valor muito alto!
Rasputim já se preparava para indagar o rei quando Léa o interrompeu.
_ Vossa Majestade, considere o baixo custo da missão e os futuros lucros
deste empreendimento. E são Dromedários ou Camelos, Rasputim!
Persuadido pelas palavras de Léa o rei do Sudão ordena aos seus súditos
que, imediatamente, comecem os preparativos para a viagem. Enquanto isso Léa e
Rasputim recebem o privilégio de serem conduzidos aos aposentos do palácio a
fim de gozar de uma requintada estadia, afinal, a caravana só partiria em três
dias.
Logo, no relento da madrugada do terceiro dia, partiu a caravana de
Raspudim em direção a cidade do Cairo.
Por sorte, graças ao bom ânimo do rei o cortejo de Rasputim contava com
três arqueiros a mais e uma charrete extra que estava sortida com toda espécie
de mantimentos. Entretanto, a sorte não os agraciou por muito tempo, já que sem
demoras surgiram às primeiras baixas do comboio. Um arqueiro vítima de uma
serpente venenosa e dois guerreiros abatidos em uma emboscada preparada por
saqueadores. E foram tantos os imprevistos que reza a lenda que a pequena
caravana sequer teria suportado os cinco primeiros dias de viagem se não fosse
pelo auxílio do vigor de Rasputim e da astúcia de Léa.
Mais tarde, após dias e noites de intempéries vencidas a Caravana alcança
a capital do Egito contando com o contingente de seis homens.
_ Rasputim, ordene ao restante dos homens que criem uma distração
qualquer com os guardas locais enquanto avançamos com uma charrete por outro
caminho.
_ Você que manda, chefia! E qual será nosso ponto de reencontro?
_ Ao leste das pirâmides.
Já, diante do complexo de pirâmides Rasputim surpreende-se com a
magnificência daquelas colossais estruturas.
_ Tá olhando o quê?
_ É...
_ Sem perder tempo!
_ Merda, perdi o dicionário que usaríamos para decifrar o enigma da
entrada!
_ Não, eu usei para assuar o nariz, mas não se preocupe. O Rasputim aqui
já teve o privilégio de namorar uma egípcia.
Decifrado o enigma, imediatamente, adentraram os dois na pirâmide, no
entanto, não partilhavam da mesma coragem. Enquanto Rasputim se divertia com as
pinturas da pirâmide Léa incomodava-se com o fétido odor do local e seguia
trêmula. No entanto, não tardou para que ambos se animassem, pois logo se
depararam com a sala do tesouro.
_ Cuidado, Léa, não pise...
Neste momento, um forte ruído se anunciou atrás dos nossos aventureiros.
_ O que houve?
_ Confie em mim, corra!
E, rapidamente o chão começou a desabar sob os pés de Léa e Rasputim,
logo, abaixo se relavam estacas de madeira. Graças a viagem Léa estava
fisicamente fragilizada e só não despencou rumo a morte devido a destreza das
mãos de Rasputim, mãos santas que logo a agarraram.
_ Eu disse pra confiar em mim, Léa!
Na saída do complexo de pirâmides, Rasputim apressava-se para colocar os
tesouros recolhidos na charrete quando Léa o surpreendeu.
_ Agora, vamos para o sul!
_ Mas, e os soldados? O Rei do Sudão... Seremos...
_ Caçados, mas olhe para o céu!
_ Um balão!
_ Sim, teremos dias de vantagem e com o lucro do tesouro e a soma de mais
alguns serviços, logo, teremos dinheiro o suficiente para comprar terras, ter
nossa própria ilha, formar nossa própria nação. Confia em mim?
_ É, amo... A cidade dos ladinos... Gostei!
E assim Léa e Rasputim percorreram diversos continentes, conheceram
inúmeras culturas, serviram príncipes, duques, e sultões apenas para desvendar
o paradeiro de tesouros. Neste ritmo, em pouco tempo, teriam dinheiro o
suficiente para alcançar sua ambição. Todavia, os dias de tormenta de Rasputim
estavam próximos, fora justamente quando seguiam viagem em busca de um tesouro
na Turquia que foram surpreendidos por um grupo de saqueadores liderados por
outro conhecido ladino, Ragnar. Apesar da desvantagem numérica Léa e Rasputim
lutaram lado a lado com vigor até o momento em que ambos se depararam com a
espada de Ragnar. Léa fora, rapidamente,
ficara fora da batalha ao receber um golpe profundo na perna. Já, Rasputim
prosseguiu com coragem, mas as habilidades de Ragnar em superiores as suas.
Logo, Rasputim viu-se caído, desarmado e com a espada de Ragnar em sua
garganta.
_ Diga suas últimas palavras, grande Rasputim!
_ Você fede!
_ Tenho certeza que no inferno encontrará odores piores!
Ragnar já havia levantado sua espada para deferir o golpe fatal quando
Léa gritou!
_ Não, poupe Rasputim e o acompanharei como sua serva!
_ Uma ladrão não precisa de servas! E o nome de Rasputim deve se apagar
para que o meu seja glorificado.
_ Mas, serei uma serva para todos os seus desejos...
_ Todos...
_ Sim, apenas poupe a minha vida e deixe Rasputim entregue a própria
sorte, amarrado nos restos desta carroça!
E assim cedendo aos encantos da bela Léa Ragnar rouba os bolsos de cada
cadáver da caravana e por fim segue viagem com Léa deixando Rasputim a
resmungar, entregue a própria sorte.
_ Mulher maldita! Como pude dedicar minha confiança aquela rata! Amor...
Ha ha ha há... Eu devia ter entendido antes, não existe sequer compaixão no
mundo dos ladrões.
E assim pela primeira vez Rasputim sentiu medo, temeu a canção macabra
que os ventos cantarolavam pelas dunas do deserto. Imaginou que, logo, seria
vítima de alguma investida de um predador do deserto. Quanto tempo agonizaria
se picado por uma cobra venenosa? Sim, Rasputim sentia-se amaldiçoado, afinal,
já havia sido abandonado pelos pais, na infância, e desde cedo aprendera a se
virar sozinho nas ruas da impiedosa Bagdá! Por sorte, caiu no sono antes que
praguejasse contra todas as divindades que conhecera. Pela manhã preocupou-se
em racionar água e proteger o seu corpo do forte sol, todavia, com o avanço das
horas seu cantil logo secou e, às três da tarde, seus lábios já estavam
cobertos de enormes rachaduras. Suas vestes completamente ensopadas, logo,
Rasputim começara a alucinar.
_ Cadê mamãe, cadê papai? Malditos macacos voltem aqui!
Em seus raros momentos de lucidez Rasputim contemplava o céu, aquele
imenso céu azul que lhe serviria de túmulo. Raspudim conformava-se com a ideia
da morte, afinal, sua vida fora repleta de tantas aventuras. Que mal haveria em
um pouco azar? Porém, fora num destes devaneios que Rasputim avistara uma
carroça, rapidamente, vindo em sua direção. Logo, seus olhos, subitamente,
encheram-se de lágrimas, mas não por estar a salvo da morte e sim porque a
conduzi-la estava Léa, que havia voltado para resgatá-lo, fazendo-se digna do
seu amor!
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