O peregrino da paz e o ariano curioso na estrada da desolação!


Já era noite, e a estrada estendia-se ao longo do caminho, no entanto, nada se renovava! E eles seguiam sempre cercados pela vegetação sombria, erva daninha que em comprimento ultrapassava-lhes a cabeça. Acompanhava-os apenas o distante sopro do mar e a enigmática visão do fétido rio que os hipnotizava, logo, atrás da mata. Todavia, o peregrino da paz seguia tranquilo, risonho, tagarelava sobre costumes de povos antigos. Minutos depois houve uma pausa no assunto, e o peregrino parou e acendeu seu cachimbo. Havia ainda muito a se percorrer.
Já, o curioso ariano não gozava da mesma tranquilidade, confortado apenas pelos tragos no cachimbo, com seu passo trôpego, ele esforçava-se para seguir o peregrino. E sua atenção encontrava-se tão dispersa que sequer podia ouvir os fortes pigarros do peregrino. Interessava-lhe somente registrar o momento, o sopro do mar, o vôo dos vagalumes e exuberância da lua.
Não demorou e um estranho imprevisto surgiu para lhes roubar a tranquilidade da viagem. Vários metros a frente, bem devagarzinho, crescia um estrondoso som de tambores. Apesar da relutância das pernas e do fato de seguirem desolados naquela velha estrada de terra o ariano curioso e o peregrino da paz decidiram seguir viagem e desvendar o mistério do som.
_ Tambores tribais?
Questionou-se em silêncio o ariano curioso!
Já, o peregrino da paz seguia driblando o medo, distraindo-se com as tragadas no cachimbo e balançando um graveto.
Segundos depois, revelam-se umas luzes foscas vindo da direção do som que os intrigava.
_ Canibais marcianos!
Brincou o peregrino da paz!
E seguiram os dois contando piadas sobre o incerto destino que os esperava. Todavia, mais alguns metros e perceberam que eram apenas carros estacionados ao lado de uma encruzilhada do caminho que ia dar na praia.
Possuidor de melhor visão o ariano curioso notou que se trava de um ritual religioso. Havia imagens, homens e mulheres vestidos de brando. Espantaram-se ambos quando viram que havia até um violão. E, logo, falaram juntos!
_ Vamos até eles!
E, desenfreado, perdeu-se em pensamentos o ariano curioso “Seu eu ainda tocasse melhor violão... Novas conversas, bebidas e...”.
Mas, na verdade perdiam-se ambos em devaneios de levantar a saia das mulheres, perdiam-se na sensualidade dos seios. Porém, estavam cansados, tinham o cachimbo como companheiro e seguiram viagem.
À medida que deixavam para trás os delírios daquela perdida aventura os dois calaram-se e voltaram a dialogar com o local. No entanto, desta vez fora um movimento no mato que os retirara do abismo da distração. Logo, o peregrino da paz, profundo conhecedor da região, alerta o amigo!
_ Cuidado! Afaste-se do mato, movimentos lentos. Já, me falaram de casos de jacarés vivendo no rio.
_ O quê? E agora que você me diz!
E assim os dois trataram de caminhar a passos largos, porém com ruídos comedidos. Entretanto, atrás deles o mato continuava a se mover. Subitamente, ambos olham para trás e avistam a criatura a preparar o seu bote. Rapidamente, suando frio, os dois apressam-se a correr, mas poucos metros à frente o chinelo de dedo do ariano se parte. Faminto e reconhecendo aquela oportunidade o jacaré aperta o passo, abre a boca e... Que infelicidade... Para o jacaré! Graças à ajuda do peregrino da paz, que voltou atrás a tempo de resgatar o ariano ajudando-o a levantar-se. A seguir ambos não economizaram canelas e fugiram rapidamente.  Porém, não demorou e ambos se cansaram, afinal, já haviam percorrido muitas léguas.  Por sorte eles avistaram uma estreita ponte de madeira logo à frente, uma antiga construção que poderia ruir a qualquer momento. Mas, estavam cansados demais para continuar correndo e aquela era a única chance de escapar com vida do jacaré.
Temendo cair da ponte, mas temendo ainda mais o jacaré o ariano curioso foi o primeiro a colocar os pés na ponte. Mas, neste exato momento, ele avistou sobre a ponte o formato esfumaçado de um homem a segurar uma lanterna.  E receoso de que fosse uma assombração, rapidamente, ele grita.
_ Tá vendo isso?
E o peregrino responde.
_ Tô, mas tem também o jacaré!
E assim enfrentando o medo do sobrenatural eles se esquivam daquela figura esfumaçada a fim de fugir do jacaré.
 No entanto, após superarem o perigo dos estalos e das madeiras quebradas da ponte ambos olham para trás e se deparam com uma grande revelação. Sim, a viagem os deixara exaustos demais e os fizera confundir um gato do mato com um jacaré e um pescador com uma assombração!

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